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Casos de violência contra brasileiras no exterior aumentam 5% em 2024
Consulados registraram 1.631 casos no último ano. EUA, Bolívia, Itália e Portugal lideram denúncias
A violência contra mulheres brasileiras não conhece fronteiras e, em 2024, os dados consulares comprovam essa realidade com contundência. Segundo o mais recente levantamento do Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), em parceria com o Ministério das Relações Exteriores, as embaixadas e consulados do Brasil registraram 1.631 casos de violência doméstica ou de gênero contra brasileiras vivendo fora do país, um aumento de 5% em relação a 2023.
Os números incluem denúncias de agressões físicas e psicológicas, ameaças, perseguições, violência patrimonial e situações de risco envolvendo crianças. Embora representem apenas os casos oficialmente notificados, já revelam um cenário preocupante: mulheres brasileiras no exterior enfrentam múltiplas vulnerabilidades, muitas vezes sem rede de apoio e com barreiras institucionais que dificultam pedir ajuda.
Onde as denúncias mais crescem e por quê?
Os países com mais registros em 2024 foram:
- Estados Unidos: 397 casos
- Bolívia: 258 casos, com salto histórico de mais de 800%
- Itália: 153 casos
- Portugal: 144 casos
- Reino Unido: 102 casos
Especialistas indicam que o aumento não é apenas reflexo da violência em si, mas também da ampliação da rede consular e da maior disposição das vítimas para denunciar. Mesmo assim, estimam que o número real é muito maior, a subnotificação é regra, não exceção.
As barreiras que silenciam mulheres brasileiras no exterior
Trabalhadoras migrantes, estudantes, babás, profissionais do cuidado, mulheres vivendo em relações transnacionais ou famílias recém-chegadas enfrentam desafios que agravam o risco de violência e dificultam romper o ciclo. Entre os obstáculos mais comuns:
- dependência financeira do parceiro, agravada pela falta de visto de trabalho;
- medo de deportação, especialmente para quem vive em situação migratória irregular;
- racismo, xenofobia e falta de acolhimento institucional;
- barreiras linguísticas, que dificultam procurar polícia, abrigo ou acompanhamento jurídico;
- isolamento social, sem familiares por perto ou rede de amigas de confiança;
- desinformação sobre direitos, tanto no país de destino quanto nos órgãos consulares.
Muitas brasileiras relatam ainda que a violência aumenta nos primeiros anos de migração, período marcado por instabilidade econômica, choque cultural e dependência emocional.
Nos últimos anos, o governo brasileiro tem ampliado ações de acolhimento no exterior, como o atendimento psicológico e jurídico em português, produção de cartilhas de orientação sobre direitos das brasileiras, treinamento de equipes consulares para casos de violência de gênero, articulação com redes locais de proteção e casas-abrigo e programas de retorno assistido ao Brasil em casos extremos.
Ainda assim, especialistas afirmam que o atendimento é desigual entre países, depende de orçamento local e enfrenta limitações de pessoal. Em nações com grande comunidade brasileira, como EUA, Portugal e Reino Unido a demanda já supera a capacidade de resposta.




