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Morre aos 111 anos Viola Ford Fletcher, a sobrevivente mais velha do Massacre de Tulsa
Conhecida como “Mother Fletcher”, ela dedicou a vida a impedir que o massacre de 1921 fosse esquecido e se tornou um símbolo global de memória, justiça e resistência negra
Viola Ford Fletcher, a mais longeva sobrevivente do Massacre de Tulsa, morreu aos 111 anos, encerrando um ciclo histórico que atravessou mais de um século de racismo, apagamento e luta por reparação nos Estados Unidos. A informação foi confirmada por familiares e autoridades de Tulsa na segunda-feira (24).
Nascida em 1914, Fletcher tinha apenas sete anos quando testemunhou um dos crimes raciais mais brutais da história moderna: o ataque ao distrito de Greenwood, conhecido como Black Wall Street, onde uma comunidade negra economicamente próspera foi incendiada e destruída por uma multidão branca em 1921. Centenas de pessoas foram assassinadas, milhares ficaram desabrigadas e dezenas de quarteirões foram apagados do mapa.
Ao longo de décadas, Fletcher transformou sua experiência infantil em um compromisso público. Mesmo após viver grande parte da vida como trabalhadora doméstica e mãe de família, ela passou a reivindicar, já idosa, aquilo que o Estado americano tentou negar por décadas: verdade, reparação e memória.
Em 2021, aos 107 anos, ela testemunhou diante do Congresso dos Estados Unidos e descreveu o terror daquela noite, casas incendiadas, tiros, famílias inteiras fugindo pelas ruas, e o impacto intergeracional que seguiu. Sua fala se tornou um marco na pressão por justiça histórica. “Nunca me recuperei totalmente. E ninguém nos ajudou a nos recuperar”, disse.
Fletcher também se tornou autora. Em 2023, lançou o livro Don’t Let Them Bury My Story, título que sintetiza sua missão: impedir que a violência sofrida pelos moradores de Greenwood fosse enterrada pela narrativa oficial.

A mobilização histórica liderada por ela e por outros sobreviventes resultou em mudanças concretas. Em 2024, a cidade de Tulsa anunciou um fundo de reparações de US$ 105 milhões para enfrentar os impactos socioeconômicos deixados pelo massacre, um gesto inédito e simbólico, ainda que tardio, na luta por responsabilização.
Figura reverenciada por líderes comunitários, artistas, intelectuais e movimentos de justiça racial, Fletcher foi descrita pelo prefeito Monroe Nichols como alguém que “carregou 111 anos de verdade, resiliência e graça”, lembrando que sua voz ajudou a tirar o massacre do silêncio institucional.
A morte de Mother Fletcher representa o fim da última geração que viveu Greenwood antes de sua destruição. Mas seu legado permanece vivo: na luta por reparações nos EUA, nas pautas globais contra o racismo e na necessidade de proteger a memória como ferramenta de transformação.




